Friday, March 2, 2007

Porque é que as pessoas participaram, autorizaram e tacitamente aceitaram o genocídio ?

O Holocausto é o fenómeno histórico do Nazismo, que se tornou o símbolo negro do séc. XX, foi objecto de numerosos estudos históricos, psicológicos, sociológicos, literários e filosóficos. Todo o tipo de estudiosos tentaram dar uma resposta para o que parece ser o acto mais irracional do mundo ocidental. E várias possibilidades “explicam” o porquê de tamanha barbaridade, que ficou conhecida por Holocausto.
Hoje em dia, os genocidos têm, na maioria das vezes, outro tipo de causas, desde a questão do petróleo, questões territoriais, religiosas e passados já antigos de guerras entre as etnias em questão, mas certamente se poderão fazer comparações e tirar conclusões. Deixo então ao leitor que tire as suas elações, se poderá haver outros Holocaustos, e que semelhanças ou bases este que ocorreu terá com os de hoje.

Obediência

Stanley Milgramfoi um psicólogo e sociólogo que tentou procurar respostas que explicassem porque é que houve pessoas que obedeceram ás ordens imorais e desumanas do Holocausto. Os estudos de Milgram apontam que pessoas razoáveis, quando estando ás ordens de alguém em posição de autoridade, por questão de obediência, fazem o que lhes é mandado (opinião esta reforçada pelo próprio carácter de autoridade do nazismo). No seu livro “Mass Psychology of Fascism” (1933),Wilhelm Reich também tentou explicar a questão da obediência. O trabalho tornou-se a fundação do Freudo-Marxismo. O vencedor do Nobel Elias Canetti também explica o problema da obediência em massa na sua obra “Masse und Macht”, em 1960, desenvolvendo uma teoria original das consequências dos comandantes e da pessoa que obedece, podendo tudo isto tornar-se numa paranóia despótica.
Resumindo, a questão da obediência pode ter a ver com a manipulação de quem emitia as ordens, e o efeito destas na psicologia de quem as recebia, sendo estes, até certo ponto, manipulados. Tal como diz Jane Elliot: como puderam as pessoas fazer parte de algo tão terrível, quando não estiveram na realidade, psicologicamente envolvidas?

Mecanismos Psicológicos

O Holocausto é um claro exemplo de dois tipos de factores psicológicos. Um é descrito pela teoria da “boiling frog”, que diz que uma enorme mudança psicológica (a ponto de imaginar que o Holocausto é uma ideia razoável) não é notada se ocorrer gradualmente. Outro factor é a questão da influência de massas, onde os indivíduos seguem o que as multidões se dispõem a fazer, no geral para não serem apontadas e para participarem nelas, em linguagem popular, é o estilo “Maria vai com as outras”. Este mecanismo tem evoluído através da selecção natural para que os grupos humanos sobrevivam. Juntos, estes factores fazem com que a adaptação no grupo seja um impulso mais forte do que propriamente rompê-lo, mesmo que o indivíduo discorde do que o grupo faz. De facto, houve participantes do Holocausto que sentiram horror ou desgosto naquilo que eram obrigados a fazer, mas ficaram sempre na linha do grupo, escondendo estes pensamentos.
Outras teorias, incluindo as socioeconómicas, podem também ajudar a explicar o porquê da barbárie do Holocausto.
Sabendo que a Alemanha tinha perdido e sido humilhada na Primeira Guerra Mundial, a ruína e insucesso da Republica de Weimer, o facto de ter sido obrigada a pagar as reparações de guerra e da Grande Depressão, era natural que os alemães se sentissem frustrados e culpassem ou usassem alguém para “descarregar” a sua raiva, amplificando esta para as consequências brutais do Holocausto.

Funcionalismo versus Intencionalismo

Um tema frequente nos estudos contemporâneos sobre o Holocausto é a questão de funcionalismo versus intencionalismo. Os intencionalistas acham que o Holocausto foi planeado por Hitler desde o início. Funcionalistas defendem que o Holocausto foi iniciado em 1942 como resultado do falhanço da política nazi de deportação e das iminentes perdas militares na Rússia. Estes dizem que as fantasias de extermínio delineadas por Hitler em Mein Kampf e outra literatura nazi eram mera propaganda e não constituíam planos concretos (curiosamente esta foi também a estratégia da argumentação da defesa dos Nazis perante os Julgamentos de Nuremberga
).
Outra controvérsia relacionada foi iniciada recentemente pelo historiador Daniel Goldhagen , que argumenta que os alemães em geral sabiam e participaram com convicção no Holocausto, que ele acha que teve as suas raízes num anti-semitismo alemão profundamente enraizado. Goldhagen vê na Igreja cristã uma origem desse anti-semitismo. No seu livro "A Igreja Católica e o Holocausto – uma análise sobre culpa e expiação", Goldhagen reflecte sobre passagens do Novo Testamento claramente anti-semitas. Numa conferência que fez em Munique em 2003, Goldhagen colocou a seguinte questão: se em vez de frases como "pelos seus pecados os judeus têm de ser punidos", ou "os judeus desagradam a Deus e são inimigos de todos os homens" São Paulo tivesse escrito no Novo Testamento semelhantes frases sobre outro grupo qualquer, os negros por exemplo, será que não se poderia dizer que o Novo Testamento é racista ? Outros afirmam que sendo o anti-semitismo inegável na Alemanha, o extermínio foi desconhecido a muitos e teve de ser posto em prática pelo aparelho ditatorial nazi.
Goldhagen explora também o facto de milhões de alemães terem participado nas atrocidades da Guerra, afirmando depois da guerra, se acusados (o que raramente aconteceu), que eles tinham de seguir ordens para evitar represálias.
No entanto, houve alguns casos de alemães que recusaram participar nas matanças maciças e outros crimes e que não foram punidos em forma nenhuma pelos nazis. Alemães casados com judeus que optaram por se manter com o seu companheiro, não foram castigados e suas esposas judias sobreviveram.

Ódio Religioso

Os alemães consideraram que como objectivo ultrapassar a compaixão natural e executar ordens que eles consideravam ser ideais superiores. Muita pesquisa têm sido feita para se explicar como é que pessoas normais puderam ter participado em crimes hediondos, mas sem dúvida que, como em alguns conflitos religiosos no passado, algumas pessoas fixaram ideologias de ódio religioso (um exemplo é a Guerra Santa) e de racismo, cometendo assim certos crimes com algum deleite sádico. Em qualquer genocídio ocorrem estes tipos de actos, nomeadamente a “Solução Final".
Claro que a questão mais debatida e considerada mais certa é o próprio racismo puro que os nazis tinham. Convencidos que pertenciam uma raça superior, consideraram que deveriam dominar o Mundo, submetendo as demais raças “inferiores” ou até eliminando-as. Estando convictos disto, aceitaram ideais como estes correctos, como forma até de exacerbar o seu nacionalismo e totalitarismo.
Martinho Lutero (líder Alemão da Reforma Protestante) apelou a uma rígida perseguição ao povo Judaico, incluindo que as suas sinagogas e escolas fossem incendiadas, os seus livros religiosos destruídos, as suas casas demolidas, e sua propriedade e dinheiro confiscados. Lutero afirmou que os Judeus deveriam ser tratados sem compaixão ou piedade, não deveriam ter protecção legal e que deveriam ser enviados para campos de trabalho forçado ou dizimados para sempre. Pode-se dizer que existe uma certa descendência anti-semita. De facto, Hitler, no seu livro Mein Kampf escreve a sua admiração por Lutero e seus ideais de ódio religioso.
Finalmente, muitos repararam em antigas raízes do anti-semitismo, que têm estado presentes no Mundo desde o início da fundação do Cristianismo. Estes sentimentos não foram diferentes na Alemanha antes da Guerra, mais fortes até que em qualquer sitio, mas os Nazis foram os primeiros a fazer a primeira politica para organizar, promulgar e oficializar o anti-semitismo, e até a proibir a protecção de Judeus.


Comments :

" O Holocausato foi uma vergonha para a Humanidade. No entanto não estamos tão longe dessa realidade quanto desejaríamos.Veja-se o recrudescimentos dos movimentos nacionalistas, os crimes dos skinheads e a expulsão de imigrantes a coberto da própria legislação. Afinal, a História volta a repetir-se. Será que nunca aprendemos? "

Carolina Pimentel

Sem duvida acerca do que disse, afinal o genocidio maior de toda a História decorreu de uma maneira semelhante, envolto de nacionalismos, expulsão de imigrantes e crises, ou recessões economicas. De facto, o mesmo está a acontecer, e a História não nos ensinou, como já nos foi provado, nas duas Guerras Mundiais. Mas, não nos devemos cingir a perguntas retóricas, devemos agir, para evitar que erros como os cometidos naquele passado não voltem a acontecer...elucidar as pessoas acerca de tais quetões. O problema é essas pessoas compreenderem e aceitarem...ou simplesmente quererem saber...

Jorge Gasalho

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