Saturday, February 24, 2007

Chade


Excerto do “The Independent”

Fatuma Ahmed enterrou o seu bebé a noite passada. Na manhã seguinte, sob o sol ardente e a uma temperatura que rondava os 40ºC, todos os se lhe juntaram para prestar as suas condolências podem contar histórias semelhantes de sofrimento e dor. De como o seu pai, marido ou irmão foi morto. Como a sua mãe, mulher, irmã foram violadas. E todos eles sabem quem responsabilizar.


As mesmas milícias Janjaweed que têm devastado Darfur estão actualmente a levar a cabo investidas no vizinho Chade. Os residentes Árabes, que sempre coexistiram pacificamente com os conterrâneos não-Árabe, juntaram-se também eles ás milícias Janjaweed nos ataques aos civis. Esta insurreição está a ser alertada pelas NU como um outro possível genocídio.
Estes ataques decorrem paralelamente aos do Sudão. A vila de Fatuma foi totalmente arrasada pelas milícias árabes, que mataram os homens, violaram as mulheres e queimaram todas as casas. Consequentemente Fatuma, juntamente com outras 200 mulheres e crianças, iniciaram-se na longa demanda da segurança. Passados alguns meses, quatro homens a cavalo tornaram a atacá-las. Fatuma, então com uma gravidez avançada foi atirada ao chão e espancada violentamente. Para o seu bebé, Fatimi, eram quase nulas as hipóteses de sobrevivência. E assim foi. Aos dois meses de vida a criança pereceu.

Á medida que a mortandade aumenta no Chade, as agências humanitárias a trabalhar no terreno reforçam a necessidade urgente do envio de tropas. Uma equipa técnica das NU, depois de estar no Chade para avaliar a situação, recomendou o envio de uma força de seis batalhões, 6.000 homens, para cessar a violência.
Oficialmente, mais de 120.000 Chadianos foram deslocados de suas terras devido a violência, e este número quadruplicou nos passados nove meses. A designação “deslocados” não reflecte o horror que as milícias janjaweed infligiram, homens armados a atacar vilas, queimar casas, violar mulheres e atirar os seu bebés para o fogo.
O gado, os cavalos os burros : tudo roubado. As colheitas estão desfeitas. Tudo o que outrora eles criaram e foi seu foi roubado e destruído. E eles levados de suas terras, terra onde os seus pais, avós e bisavós nasceram. Refugiam-se nos campos de refugiados providenciados pelas NU, o mais seguro refúgio disponível. Estes encontram-se sobrelotados e no limite da sua capacidade. Os número de refugiados recém chegados não para de aumentar, e vão-se criando “aldeias”, em que vivem em condições precárias junto aos campos de refugiados. Os recursos naturais escasseiam e a dificuldade em providenciar água é a que mais preocupa os técnicos. A procura de novas fontes para obter água não cessa, mas é uma das regiões mais difíceis de encontrar água.
Numa das áreas onde há uma maior afluência de refugiados, também ela já devastada pelos Janjaweed, e onde há uma grande concentração de membros de organizações de ajuda humanitária, o medo prevalece. Nem assim se sentem seguros. O líder espiritual da região, o sultão de Darsilia, que recentemente estabeleceu uma tentativa de paz com as forças atacantes em que não foi bem sucedido, presta declarações.
“ Esta é uma região de grande diversidade cultural. Aqui coexistem 11 tribos Árabes diferentes, que coexistiam mutuamente, e com toda uma panóplia de tribos não-árabes. Viveram juntas, casaram-se entre elas. Ninguém discriminava ninguém. Tínhamos uma história, uma cultura e uma economia comuns.
Não é uma questão de princípios. É uma questão política. E quando se trata de política as estruturas de liderança tradicionais perdem toda a sua autoridade. Os confrontos são, igualmente, pelos recursos: pela falta deles. Sempre existiram rivalidade em torno disso mas chegámos a um ponto sem retorno, em que a situação está fora de controlo“

Teme-se que a situação chegue a extremos como no vizinho Sudão, mas poucas pessoas conseguem oferecer soluções. São comunidades que coexistiram pacificamente durante décadas, proliferaram juntas e que agora estão a virar-se umas contra as outras. Estamos na eminência de atingir um ponto sem retorno. É urgente que medidas sejam tomadas imediatamente .
As populações não tem meios para se defender. Os grupos de auto defesa vão proliferando nas aldeias, mas as discrepâncias são profundas. As milícias Janjaweed estão armados com Kalashnikovs, M14s e G3s. As tribos têm arcos, flechas e lanças.
O que têm em falta em artilharia, é lhes compensado em determinação. Abdul Karim afirma ter morto com o seu arco 10 guerrilheiros e esta fortemente determinado a faze-lo quantas vezes for necessário. “Lutaremos com estes arcos” disse.

E assim é, porque até que haja na comunidade internacional consenso para o envio de tropas, e as enviem efectivamente, os civis do Chade não tem ninguém mais a quem confiar a sua defesa senão a Homens como Abdul com os seus arcos e flechas.

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